TEC

Teatro Experimental de Cascais

TORGA

a partir de textos de Miguel Torga

TEC Teatro Experimental de Cascais
143ª produção | 2015
 

TORGA
a partir de textos de Miguel Torga
dramaturgia Carlos Carranca | Miguel Graça
encenação Carlos Avilez
cenografia | figurinos Fernando Alvarez
saxofone Eduardo Abreu
direcção de montagem Manuel Amorim
assistência de ensaios | operação de luz Jorge Saraiva
operação de som e vídeo Hugo Reis
comunicação Anabela Gonçalves
fotografia do cartaz Varela Pècurto
fotografias de cena | desenho gráfico Ricardo Rodrigues
mestra de guarda-roupa Rosário Balbi
execução de guarda-roupa Maria José Baptista | Palmira Abranches
secretariado Inácia Marques
assistência ao espectáculo José Miguel Henriques | Pedro Russo

elenco

António Marques Prisioneiro | Homem | Velho
Bruno Bernardo Poeta (Acto I)
Cláudia Semedo Mulher | Prostituta
Fernanda Neves Mulher
Filipe Abreu Paulo
João Cachola Poeta (Acto II)
Luiz Rizo Poeta (Acto IV)
Raquel Oliveira Ana
Rodrigo Tomás Guarda | Homem
Sérgio Silva Poeta (Acto III)
Teresa Côrte-Real Mulher | Taberneira

Neste mês de Abril de 2015, vinte anos após a morte do Orfeu Rebelde, poeta que assentou os seus princípios na "tríade bendita" que jurou defender e que, obstinadamente, cumpriu - «o amor, a verdade e a liberdade», o TEC, uma vez mais, pela mão engenhosa de Carlos Avilez, sela a montada e cavalga pelas veredas da alma de um dos mais significativos poetas ibéricos, referência maior da cultura transmontana-portuguesa.
Sempre chegado às realidades políticas e sociais que viveu, Torga enfrentou-as corajosamente, até na prisão e, a sua obra, meticulosamente visada pela censura política, sofreu inúmeras apreensões. O poema dramático Sinfonia, por exemplo, publicado em 1947, foi enviado pela PIDE à DGC em 1951 e, cinco anos mais tarde, apreendida: "Coimbra, 10 de Abril de 1956 - Apreensão da Sinfonia. Mas já só me indignei por fora. Por dentro, fiquei na mesma: na desolada e irónica convicção de que eu próprio vivo apreendido há trinta anos" (Diário VIII)
Partindo da estrutura dramática de Sinfonia, Carlos Avilez saltou para o universo torguiano e com ele percorreu os locais sagrados da memória, usando poemas, textos da prosa diarística, excertos das peças Mar, Terra Firme e Paraíso, homenageando o poeta e, simultaneamente, marcando os cinquenta anos de vida do Teatro Experimental de Cascais, saudados por todos nós, os amantes da Beleza (em geral) e do Teatro (em particular).
Neste original tributo a Torga, é levado à cena o monólogo de Domingos, o jovem pescador de Mar (1941) seduzido por uma sereia que lhe teria aparecido em mar alto. Duarte Ivo Cruz marcou-a como uma das «mais belas falas do teatro português". Já em 1966 o TEC, numa apresentação muito cuidada, com cenário de Almada Negreiros, havia levado à cena Mar, então sublinhado no programa como "a mais poderosa e bela das peças teatrais de Torga".
Mais tarde, em 2000, estreia Terra Firme em S. Martinho da Anta (Trás-os-Montes), terra natal do escritor. Obra que traduz, segundo Maria Helena Padrão, "o espaço em tempo, o passado em presente, esculpindo como personagens a Vida e como palco a Terra inteira" e onde " o senhor homem, criatura débil ante todas as criaturas que, não aceitando os limites da sua condição, recusando a seiva da terra, se deixa seduzir pelo abismo da sua própria corrupção".
Em 2012, surge O Paraíso (escrito também nos anos 40), com as preocupações que comandaram a existência do poeta: o problema de Deus; a liberdade; o homem civilizado como símbolo da degradação existencial, vivendo a farsa do bicho homem a afirmar a sua liberdade, ganhando a vida a perdê-la.
Chegamos agora ao fim do percurso torguiano realizado pelo Teatro Experimental de Cascais e onde, por certo, os versos do poeta servem de deixa para o futuro:

"Constrói o mundo!
A sinfonia tem de ser inteira!
Junta o teu canto à melodia!
Não deixes que uma nuvem de poeira
Tolde a luz que te guia!"
(em NIHIL SIBI, 3ª ed. 1975)
Carlos Carranca

Tive a sorte de lidar com grandes poetas ao longo da vida, como Natália Correia, Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner Andresen e Miguel Torga. Torga foi muito importante no início da minha actividade profissional como encenador, apoiando-me quando muitos me criticavam. Acabei por dirigir todas as suas peças e vinte anos volvidos da sua morte, achei importante iniciar as comemorações dos cinquenta anos do Teatro Experimental de Cascais com um texto deste grande poeta.
Este é um espectáculo diferente dos que normalmente dirijo, mas sempre tive necessidade duma procura constante, de contrariar uma fórmula de conforto. Torga, que tem como base o poema dramático Sinfonia (que nunca foi representado e que o próprio Torga não queria ver no palco), não é um espectáculo em torno da personalidade ou da vida de Miguel Torga. O Poeta, a personagem central, que atravessa os quatro actos, não é uma persona nem um disfarce autobiográfico, mas sim a condição inequívoca da Poesia, povoada de poetas desajustados, marginais que procuram a razão de ser da existência, seres que dão à luz e vão morrendo. Mas... um Poeta não morre.
Com este espectáculo homenageamos não só um dos maiores poetas portugueses, mas também alguns dos actores que o representaram nesta companhia e que me têm acompanhado nesta enorme aventura.

Carlos Avilez

M/ 12 anos
duração 105 min.com intervalo

agradecimentos Clara Rocha | Francisca Costa Macedo | Paulo Magalhães | Varela Pècurto


9 de ABR. a 30 de MAI. 2015
Qua. a Sáb. às 21h30 | Dom. às 16h00

Teatro Municipal Mirita Casimiro
Av. Fausto de Figueiredo, Estoril 


Fotografias
© Ricardo Rodrigues


Cartaz